Governo atribui escassez em todo o país ao pânico dos consumidores, enquanto faltam caminhoneiros em razão de políticas pós-Brexit. Premiê Johnson deixa militares de prontidão para garantir distribuição aos postos.
Mais de dois terços dos postos de gasolina britânicos esgotaram seus estoques de combustíveis nesta segunda-feira (27/09), após consumidores em pânico agravarem uma crise de abastecimento gerada pela escassez de caminhoneiros no país após o Brexit. Filas de automóveis eram vistas em postos nas maiores cidades do país pelo quarto dia consecutivo, enquanto aumentam os temores em relação aos estragos que a crise pode gerar à quinta maior economia do mundo.
O Ministério do Meio Ambiente do Reino Unido afirmou que, na verdade, o país não passa por uma escassez de combustíveis, mas sim, de abastecimento, e que os problemas estariam somente nos pontos de vendas, devido a compras excessivas por parte dos consumidores, sem que houvesse real necessidade.
“O único motivo pelo qual nãos temos gasolina nos pátios é que as pessoas estão comprando quando não necessitam”, afirmou o ministro George Eustice. Ele diz, porém, que as coisas devem se acalmar em breve. “Tão logo as pessoas se acostumem com a situação, a vida voltará ao normal.”
O governo do primeiro-ministro Boris Johnson gastou milhões de libras esterlinas para reverter a falta de alimentos ocorrida devido a um aumento acentuado nos preços da gasolina e seus derivados. As autoridades pediram repetidas vezes, sem sucesso, que a população evitasse sair às compras em pânico.
Um porta-voz de Johnson rebateu críticas de uma suposta falta de ação por parte do governo e assegurou que as autoridades trabalham para pôr fim à crise. “O que fazemos, como um governo responsável, é adotar as medidas preparatórias necessárias para a ajudar a entrega de combustível aos postos”, afirmou.
Governo apela aos militares
A Associação dos Revendedores de Combustíveis do Reino Unido, que representa 5,5 mil proprietários independentes de postos de gasolina, afirmou neste domingo que cerca de dois terços de seus membros relataram falta de combustível. Para lidar com a crise, o governo anunciou a suspensão temporária das leis que regulam a competição de mercado para que as empresas possam compartilhar informações e identificar áreas onde a escassez de combustível é mais grave.
O primeiro-ministro deixou as Forças Armadas de prontidão, para ajudar a garantir o abastecimento aos postos de gasolina em todo o país. Os militares deverão ainda fornecer ajuda aos órgãos que realizam testes para a concessão de habilitação para os caminhoneiros, de modo a avançar o processo para um grande número de motoristas que aguardam na fila. Segundo o setor de transportes britânico, o país carece de em torno de 100 mil caminhoneiros.
A falta de caminhoneiros ocorre em razão de uma combinação de fatores: a pandemia, o envelhecimento da força de trabalho, o êxodo de trabalhadores estrangeiros após o Brexit, além das condições desfavoráveis para esses profissionais. Tudo isso origina de uma série de consequências inesperadas da saída do Reino Unido da União Europeia (UE), formalizada no ano passado.
O governo anunciou que concederá 5,5 mil vistos de três meses de duração para caminhoneiros, a partir de outubro, e outros 5,5 mil para trabalhadores da avicultura. Mas, segundo a Confederação da Indústria Britânica, esses números não serão suficientes. Representantes de associações de caminhoneiros na Europa já sinalizam que não acreditam que um grande número de profissionais vá querer trabalhar no Reino Unido com vistos que expiram no dia 24 de dezembro.
rc (AP, Reuters, AFP)
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