No dia 30 de junho de 1934 foi preso Ernst Röhm, um ex-aliado de Hitler. Röhm queria transformar a SA num exército sob seu poder. Ele foi executado dois dias depois.
Fonte: Deustche Welle
O capitão Ernst Röhm, organizador da tropa de assalto SA (Sturmabteilung) do partido nazista, não imaginava qual seria seu destino após cair em desgraça com Hitler. O Führer havia decidido matá-lo. Faltando apenas um dia para o fim das férias coletivas dos integrantes da SA, o próprio chanceler alemão deu início ao massacre de seus ex-aliados, num episódio de incrível brutalidade e traição que ficou conhecido como a Noite dos Longos Punhais.
Röhm, um típico representante da chamada “geração perdida” da Primeira Guerra Mundial, acreditava no ideário nazista quando aderiu ao partido em 1918. Logo no ano seguinte, passou a integrar o privilegiado grupo de amigos pessoais de Hitler. Ferido três vezes na Primeira Guerra Mundial, lembrava com nostalgia da camaradagem dos soldados nas frentes de batalha. A isso, adicionava-se uma porção de energia criminosa, disfarçada sob a máscara de um nacionalista revolucionário.
Treinos na Bolívia
Ele demonstrava um desprezo profundo pelo que chamava de “farisaísmo e hipocrisia burguesa”. Nos primórdios do movimento nazista, revelara-se um organizador talentoso, atraindo um grande número de adeptos para o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores da Alemanha (NSDAP). Em 1924, elegeu-se para o Reichstag (Parlamento) pelo Partido Liberal Popular Alemão e foi encarregado de organizar o batalhão nazista Frontbann. A partir de 1928 passou dois anos treinando soldados na Bolívia e, em 1930, foi nomeado para o posto de comandante da SA.
Röhm transformou a SA – inicialmente uma espécie de força paramilitar privada de Hitler – numa milícia popular formada por combatentes de rua, capangas e arruaceiros. Do seu ponto de vista, foi “bem sucedido”: o número de integrantes da SA subiu de 70 mil para 170 mil em apenas 18 meses. As fileiras da milícia eram engrossadas, principalmente, por desempregados, mas eram recrutados também ladrões e assassinos. Para Ernst Röhm, esse “exército plebeu” era o núcleo do movimento nazista, “a encarnação e garantia da revolução permanente”, baseada no “socialismo de caserna” que ele experimentara durante a Primeira Guerra Mundial.
De fato, a SA desempenhou um papel decisivo na ascensão de Hitler entre 1930 e 1933, através da intimidação de adversários políticos. Mas em 1933, quando já contava com milhões de integrantes, a organização passou por uma pequena decepção. Seus líderes, que aspiravam à supremacia dos quartéis sobre a classe política, irritavam-se com a crescente burocratização do movimento nazista.
O sonho de Ernst Röhm era ser o comandante supremo de uma enorme força armada, resultante da fusão da SA com o exército regular. Hitler seria então “apenas” o chefe político. Como comandante da SA, ministro sem pasta e secretário estadual na Baviera, Röhm ocupava cargos de destaque no final de 1933, mas desperdiçou todos os seus trunfos.
Empecilho aos planos de Hitler
Ele se opunha ao plano de Hitler de realizar uma revolução sob o manto da legalidade e passou a falar publicamente de um iminente golpe de Estado. Sua demagogia populista era rejeitada pela classe média e preocupava os militares e industriais, que formavam a base do regime nazista. A reivindicação de Röhm de transformar a SA numa milícia autônoma alarmou os generais, indispensáveis para os planos de longo prazo de Hitler.
Como o chanceler demorasse a agir, o Exército lhe deu um ultimato, dizendo que, se uma medida enérgica não fosse tomada, um golpe de Estado militar tiraria os nazistas do poder. Foi aí que Hitler decidiu liquidar “Röhm e seus rebeldes”. Sem a menor suspeita da chacina que estava sendo tramada, Röhm foi preso na noite de 30 de junho de 1934 num hotel junto ao lago Tegernsee (Baviera), onde festejava com outros líderes da SA.
Levado para a prisão de Stadelheim, negou-se a cometer suicídio e foi fuzilado dois dias depois. Na chamada Noite dos Longos Punhais, os nazistas executaram sumariamente 85 pessoas, muitas delas sem qualquer ligação com Röhm.
Oficialmente, o governo alemão alegou que a SA estava preparando um golpe contra o Reich. Na prática, porém, Hitler concretizava apenas mais uma de suas estratégias de poder: após o massacre, ele não tinha mais rivais e podia celebrar o domínio absoluto sobre o partido nazista.
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