Em fevereiro o US$ final foi cotado a R$ 4,4987 e o US$ médio ficou em R$ 4,3410. O mês foi marcado por sucessivos recordes no valor nominal da taxa de câmbio, que chegou a ser cotada acima do R$ 4,50 e acumulou uma valorização de 4,56%, sendo o maior valor para o mês desde 2015 (6,19%). O recorde é nominal pois não é descontado os efeitos da inflação dos EUA e do Brasil. Nas vésperas da eleição de 2002, o pico da cotação foi de R$ 3,952 que atualizado para hoje seria maior do que R$ 7,00. Esta correção é relevante, pois o poder de compra das moedas sofre alterações com o passar do tempo.
O principal vetor da valorização cambial foi o receio dos mercados com a possibilidade de uma recessão da economia global. No início do mês acreditava-se que o surto do coronavírus iniciado na China seria contido e que rapidamente a atividade econômica iria retomar a atividade, entretanto, conforme se passavam os dias disparavam novos casos de pacientes infectados em outros países, afetando as expectativas. Diante deste cenário de desaceleração da economia mundial, as apostas estão no fato dos principais bancos centrais do mundo sinalizarem que devem atuar para estimular suas economias.
Não é somente o cenário externo que explica o comportamento do câmbio no Brasil, a política nacional segue no radar causando apreensão aos investidores. Que estão receosos com a possibilidade de o país não avançar com as reformas prometidas pelo governo. Os temores se aprofundaram após o presidente Jair Bolsonaro criticar o Congresso nacional alegando que o parlamento não coloca em pauta os projetos governamentais e que o Judiciário toma decisões contrárias à sua gestão. O impacto das declarações do chefe do executivo ao criticar abertamente os outros poderes é a criação de uma crise institucional que lança dúvidas sobre projetos futuros
Com o conjunto de dados disponíveis até o momento, ainda não é possível projetarmos a real magnitude dos impactos do surto de coronavírus sobre a economia mundial e as consequências para a economia brasileira. Entretanto, quando observamos historicamente o comportamento de epidemias sobre a economia elas tendem a afetar a curto prazo, mas se dissiparem no longo prazo. Há diversas particularidades no comportamento do vírus covid-19 e o mesmo começa a chegar em outras regiões do mundo. Mas seguimos acreditando que as ações dos principais bancos centrais e uma certa estabilização da doença após o pico de contaminações deverão favorecer para que a cotação cambial inicie um processo de acomodação.
No boletim Focus divulgado hoje logo pela manhã pelo Banco Central foram realizadas revisões nas projeções para o ano de 2020.
– O crescimento foi reduzido de 2,20% para 2,17% e a inflação passou de 3,20% para 3,19%.
– A previsão da taxa de câmbio foi ajustada de R$/US$ 4,15 para R$/US$ 4,20 e a taxa Selic permaneceu inalterada em 4,25% a.a
José Carmo. economista e editor da JPE josepauloecon
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