Fonte: Deustche Welle
No dia 12 de maio de 1881, a Tunísia tornou-se protetorado francês. Nos bastidores, estava o alemão Otto von Bismarck, que desviava a atenção dos franceses para a política colonial, a fim de afastar as tensões de Berlim.
A corrida das nações europeias por um lugar ao sol começou nas duas últimas décadas do século 19, mais exatamente após o Congresso de Berlim, em junho/julho de 1878. A ameaça de uma grande guerra pairava no ar. O “equilíbrio de forças”, que desde o Congresso de Viena em 1815 garantia relativa estabilidade na Europa, balançava após a vitória da Prússia sobre a França. A Alemanha ambicionava tornar-se potência hegemônica.
O papel de Bismarck
O chanceler imperial Otto von Bismarck, que em 1875 provocara a França, ansiosa por uma revanche, tentava acalmar os vizinhos. Após as guerras de unificação contra a Dinamarca (1864), a Áustria (1866) e a França (1870/71), ele garantiu que a Alemanha estava “saturada”: “A Alemanha não tem intenção de fazer novas conquistas”. Em Berlim, ele se apresentava como um “corretor sincero, realmente interessado no fechamento do negócio”. O “negócio” em questão era salvar a ameaçada paz europeia (sobretudo depois da guerra russo-turca) e, ao mesmo tempo, repartir o mundo entre as grandes potências.
O Império Otomano – a esta altura conhecido como “o doente da Europa” – perdera seus últimos territórios nos Bálcãs após o acordo de paz de San Stefano, imposto pela Rússia. A Inglaterra e a Áustria protestavam contra o crescente poder da Rússia que, ironicamente, mantinha desde 1872 uma tríplice aliança imperial com a Áustria e a Alemanha. O pesadelo de Bismarck era um conflito com duas frentes de batalha: contra a arqui-inimiga França e contra a Rússia, que saíra desapontada do Congresso de Berlim. Era um temor plausível, visto que Paris não engolira a humilhação de 1871.
Estratégia frustrada
Em 1873, o chefe de Estado francês, George Clemenceau, anunciou a intenção de transformar a Rússia (que fora o carrasco na derrota francesa para a Prússia) num “instrumento da nossa plena reabilitação”. Por mais de uma década, Bismarck conseguiu impedir a revanche francesa por meio de uma tática pérfida: mantinha o vínculo com São Petersburgo e isolava a França. Ou ainda: desviava a atenção dos franceses para a política colonial, a fim de afastar as tensões de Berlim.
Bismarck apostava num conflito entre a França e a Inglaterra, principal potência colonial da época. O império britânico sonhava em dominar a África, do Cairo ao Cabo da Boa Esperança. Mesmo assim, aceitava o protetorado francês na Tunísia imposto pelo Tratado de Bardo. O tratado de Casr el Said Bardo foi assinado em 12 de maio de 1881. Ele significou, por um lado, melhorias na infraestrutura da África do Norte, mas trouxe também outros problemas, cujas consequências são sentidas ainda hoje.
Um ano depois, a França ocupava toda a Argélia. Até 1911, o país conquistou 10 milhões de quilômetros quadrados de colônias com 60 milhões de habitantes. Assim, os franceses tornaram-se a segunda maior potência colonial, depois da Inglaterra, e passaram a sonhar com um império da África Ocidental à Índia. A política colonial, que entre 1881 e 1884 até chegou a aproximar a Alemanha e a França, nunca passou de um mero instrumento de poder para Bismarck. Mas, ao contrário do que ele esperava, a França não deixou desviar por muito tempo suas atenções para os territórios ultramarinos. Sua aproximação com a Rússia estava em pleno andamento. Poucos anos depois, quem estaria isolada seria a Alemanha.
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