Por Carlos Eduardo Frickmann Young
Infelizmente, ainda é frequente o discurso de que a degradação das condições ambientais é uma condição necessária para o desenvolvimento social e econômico. Essa visão traz forte analogia com uma discussão mais antiga na literatura econômica brasileira: a ideia de que a desigualdade, em especial, a concentração de renda era funcional ao desenvolvimento. O objetivo deste capítulo é demonstrar que ambos os problemas, desigualdade socioeconômica e degradação ambiental, são dimensões diferentes do mesmo modelo que concentra os benefícios nas mãos da elite econômica e política.
Por outro lado, as externalidades negativas desse processo (poluição, riscos de eventos extremos, tempo de deslocamento ao trabalho e outros problemas ambientais) são absorvidas, principalmente, pela população mais pobre. Ou seja, além da falta de equidade na apropriação da renda e riqueza, existe uma dimensão não monetária da pobreza que, apesar de não ser usualmente contemplada nos estudos sobre distribuição de renda, contribuem para que as desigualdades socioeconômicas atinjam níveis tão elevados no Brasil.
Por essa razão, não é possível aceitar a falácia de que a degradação ambiental é um caminho para o desenvolvimento socioeconômico, porque acentua ainda mais os problemas de desigualdade, que são o principal entrave que se busca solucionar. Como corolário, as políticas de proteção do meio ambiente e dos
recursos naturais são essenciais para garantir maior igualdade e reduzir a pobreza, especialmente, aquela que se manifesta de forma não monetizada (as externalidades negativas referidas). Portanto, a atual tendência de desmonte da política ambiental é mais um fator que irá acentuar as desigualdades desse país.
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